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sábado, 3 de setembro de 2016

A Loba e Eu (por TH)


"Certa vez acordei num dia de muito calor e não era nem oito da manha.
Mal sabia eu que as intempéries dos próximos dias seriam uma montanha russa
Entre o calor do pecado, o sopro gélido do corte da morte e a brisa fresca de mudança que traz o outono.

Queria mesmo era uma praia nas sombras de algumas palmeiras para ao menos suar com prazer.
Mas estava eu em casa. Sozinho e cheio de mim num quarto abafado.

Interessado como sou, pensava em dominar o mundo.
Estava a traçar os planos da conquista, mas desisti ao primeiro papo absurdo que me surgiu às vistas.
Sorte minha.

Apareceu nesse dia uma criatura pedindo ajuda
Pensei: é uma boa forma de conquistar o mundo.
Sabia eu que talvez não pudesse socorrer, mas por algum comichão eu o queria fazer.

Entrei naquele mundo como um invasor ou bom samaritano.
Enquanto vasculhava os problemas ficava a desejar desvendar as faces daquela estranha,
Na qual adentrava em entranhas virtuais.

Nos dias que se seguiram veio o sopro do pecado
A abrasar minha vontade de possuir aquele ser estranho,
Tão sedutor com suas palavras,
Tão libidinoso com seu mistério.
Nu fiquei perante a loba.

Loba sim, porque não é desse país.
Suas terras são frias e seus rastros são profundos.
Seu olhar é aço nobre e sua pele é de marfim suave,
Provavelmente é uma das maravilhas perdidas no mundo.

Diferente da vulgar onça (que se diz arguta, mas é suja com seu silêncio e sua carapuça),
A loba traz consigo a inocência de qualquer morte.
Mesmo sorvendo toda minh'alma, sua pele continuou limpa como aura de criança.
De seu sorriso vermelho, o sangue não parecia mais que sua cor natural.

Essa loba comeu-me por inteiro
Se hoje existo, vivo como parte das suas entranhas.
De presa que fui, sinto-me filho e mãe,
Coberto do calor
Próximo ao coração desse ser raro
que a humanidade não pode conhecer.

Talvez fosse a loba das cavernas, aquela da natureza.
Quem sabe fosse deusa dos tempos dos primeiros homens, depois da caverna,
Mas ainda nela, com suas fogueiras e crenças,
Louvando a vida,
Louvando o amor e a família,
Com seus chicotes de couro e seus hematomas purpuras.

Lupercalia, ainda vive na pela da minha loba.
O couro vem invisível através do tempo tocando-lhe o corpo e anunciando sua fertilidade.
Mas ninguém descobriu isso até agora.

Para esconder a verdade elegeram Valentim por sua morte.
Santo que fosse, casou-lhes, mas não viveu para ver os seus.
Ainda era fim de ano quando casou seu último soldado,
Semeou a esperança de amar como remédio para as feridas da guerra.
Seu legado começou muito antes do dia 14.

Já aqui. Aqui onde estou.
Nessa terra de perdidos onde a loba veio parar, (talvez para me salvar).
Aqui não é Valentim,  nem a loba e seu festim.
Foi Dória quem pensou: vender é bom, precisamos de um motivador.
Foi pela compra que o dia semeou
e olha minha penitência nesse dia de palavras, tentando comprar sem poder,
tentando impressionar sem ter e me perdendo ao esquecer que dia é de se merecer.

Acordei com a vontade imensa de tocar-te, com o mais leve dos olhares.
Percorrer teu corpo meu minh'alma
Cobrir-te com meu amor,
Aquecer -te com meu carinho.
Deixar-te sonhar com minha vontade de eterno.

Nessa vontade de ti, arquiteto tornei-me.
Não pude comprar o que não era seu.
Como artesão,
Pelas mãos quero dar-te o encanto,
Pelo dia quero dar-te o manto
E pelo eterno quero dar-te o amor.

Foi assim que me fez lembrar:
Todo dia é uma honra,
E honrado sou por te amar."


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