domingo, 31 de dezembro de 2017

Entre o Outono e o Caos




"Vem e traz essa calcinha branca."
"Moço, ela é listrada! hahaha"
E eu fui

Fui
Na pressa, esqueci a calcinha
Mas lembrei do chocolate belga
E dos bulbos de tulipa vermelha e amarela
Pra você plantar e não me esquecer
Quando o sonho acabar

Fui
Só fui, sem pensar um minuto sequer
Essa intensidade e impulsividade louca
Típica de nosso amor único
Coração descompassado, unhas roídas até sangrar





O celular piava loucamente
Gritando sua pressa zangada por minha chegada
O portão já esperava destrancado
Claro que tropecei na escada escura e soltei aquele "merda" estridente
Que te faz gargalhar do meu jeito estabanado ser
É muita perna pra uma moça só
Difícil administrar, você sabe

Ouvir sua risada no escuro
Fez meu acelerado coração
Dar mortais carpados de emoção
E lá estava você
A mesma voz serena e toque macio
Um revival in black do nosso primeiro abraço

A casa era exatamente como me lembrava
O sofá grande abaixo da janela
O pequeno perto da porta onde eu adormecia
Ouvindo a Vó contar historias de quando você era pititico

E o vento
Ahh o vento...
Uivante, assustador e delicioso
Trazendo de longe o cheiro de maresia

A casa era a mesma
Mas a emoção de ter seus olhos escuros invadindo o amarelado dos meus
Cresceu proporcionalmente ao tempo que estivemos tão distantes
O seu cheiro é ainda mais inebriante que minha memória pode guardar
Você sabe que seu cheiro é o que destrói meu cais, como diz a Ana Muller

E você percorreu cada traço do meu rosto e corpo com as pontas dos dedos
Lendo meu amor em braile
Olhos fechados e coração na boca

"É estranho ter você aqui de novo"
Uma estranheza apagada pelo primeiro beijo
Aquela embriaguez profunda
Como cair vertiginosamente em um abismo

Beijos e abraços feitos para conferir
Se cada pequena curva e reentrância
Vibra e retesa
Reverberando mais ou menos que antes

Mais
Definitivamente muito mais
A noite derreteu em nosso suor
E cantou nossos sussurros e gritos

Acordei em seus braços
Naquela cama estreitinha
Que nos obriga a dormir grudados (como se precisasse)
Só que dessa vez duas bolinhas de pelo
Uma branca e uma preta
Se aninhavam entre nossas pernas

Gatos
Iogurte de limão e coca zero na geladeira
Louça pra lavar
Lista de coisinhas pra comprar no mercado do fim da ladeira
É
Eu estava em casa de novo

Casa
Porque moro no seu abraço
E no seu olhar risonho
Me olhando dormir de boca entreaberta

Será que a vida inteira acordarei sobressaltada com seus olhos pousados em mim?
Enfim percebeu que o que falta em você sou eu?
A gente sempre pensa que tem o leme da vida.
E ela zomba de nossa ingenuidade.

Sigamos entre o outono e o caos

De preferência com um pratinho de maça geladinha picada 
Com azeite e canela no café da manha
E "Casa" tocada no violão só pra mim antes de dormir
Não esquece

sábado, 2 de dezembro de 2017

A Incrível História de um Amor Torto e Teimoso: o medo lutando contra a saudade


Estava tudo tão vazio aqui
Silêncio ensurdecedor
Lagrimas secas
Olhos cegos
Uma ausência sem fim

Promessa cumprida
Sob um esforço furioso
Tanta dor represada
Para (tentar) deixar voar

Depois de tamanha escuridão
De um inverno profundo na alma
Numa tardinha de primavera
Um tilintar quase imperceptível
Como um sopro ao ouvido
E você estava lá
Zombando das minhas (pseudo) certezas

No início meio apagado
Só um vislumbre daquela lembrança quase perdida
Empurrada para o mais fundo da mente
Amordaçada para disciplinar
Para impedir de o acaso trair

Mas você sabe como são essas coisas
Por mais que a gente enclausure
O sol entra pelas frestas
E a vida acha seu caminho
Você sabe
Eu sei que você sabe

E seu sorriso de olhos
Suave como a brisa
Belo como o mar
Me inundou como uma maré alta
Numa noite de lua cheia

E as cores desbotadas do outono
Florescem timidamente em mim
Como um sentimento confesso de olhos fechados
Arrancado do fundo da alma

Não levante de novo as armas
A vida anda ansiosa pra morar de novo em ti
E em mim também

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Será branco ou preto o vazio?

Li algo hoje tao doído sobre o "não sentir".
Me fez lembrar, que um dia eu senti demais.
Não é uma lembrança clara, tá mais pra um borrão.

O moço falava alguma coisa sobre sua porta estar só encostada.
Isso me causou um breve risinho, uma certa ternura perante tão doce ilusão de controle.
Apesar de mergulhada nesse tal "não sentir", ainda não estou tão empedernida a ponto de achar que a paixão liga o mínimo que seja para as vontades humanas.
Minhas cicatrizes são fundas o suficiente pra nao me deixar esquecer, que manter a porta aberta ou trancada é indiferente perante a avalanche de uma paixão genuína.

Seres intensos não sabem dosar a entrega, seja ao extase ou à dor. A gente vai e vive até a última gota, o último suspiro. Dai, só sobra o vazio.

Essa minha bizarra quietude emocional apenas reforça que somente sei viver sem medidas.
Au revoir.

PS: Não confunda apatia com desamor. O amar tem vida própria e persiste até ao vazio emocional.

domingo, 29 de outubro de 2017

E quando chega a noite

"Vi uma imagem, um reflexo de ti.
Numa sacada ao luar
Sob uma luz não tão branca nem tão amarela, algo acolhedor
A iluminar furtivamente seu olhar.
Uma cor vermelha nas paredes,
Um carmim no chão,
Alguns cantos na penumbra.
Um som suave com cheiro doce, mas também fresco e profundo.

Mas não.
Você não está aqui.

Estou a definhar pelo ocaso.
A escuridão que abate o mundo chega a meu coração.
Sigo a estrada, viro a rua, penetro pela entrada, giro a maçaneta e bebo a escuridão
De um lugar que não é iluminado por teus olhos.

A noite inventou a tristeza.
Aprofundada pela sensação de chegar em casa e não ter você à minha espera." 

TH        

sábado, 23 de setembro de 2017

Lembrete #1

O amor nao é parte
É ser independente do coração que habita
Premia com alegria enquanto floresce
Mas se recrudesce, 
abandona o casulo dilacerado.

domingo, 3 de setembro de 2017

Rosa Bailante

(Homenagem ao Dia da Bailarina)
TH



"Minha linda rosa bailante,
Que toma o ar como seu chão
E piruetas faz ao vento.
Como se o mundo fosse seu,

Seu corpo e seu talento do mundo esquecia,
Rodopiava, rodava, rodava e rodava,
De suas rodas furacões fazia,
Era deusa, também rosa,
A natureza lhe obedecia.

E das suas pernas o mundo não saía,
Com seu porte de braços o universo envaidecia,
Como uma pluma que paira no ar,
Pra lá e pra cá,
Enganado a quem olha
E pensa que vai cair.

Essa moça que dança,
Essa rosa que se espaira,
Essa deusa que atua.
Roda mais uma vez,
Eu paro, lembro, admiro,
E humildemente peço,
Se essa moça se lembrar,
Enquanto no palco estiver a girar
Girar, girar e girar sem parar,
Posso ser tua âncora?"
(Basta olhar)

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Poesia Olfativa








Poesia são teus bilhetes
Pregados no meu travesseiro 
Em forma de perfume
Para que eu me lembre
De não te esquecer.
(Como se fosse possível esquecer você)

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Book of Shadows - Feitiço Numero Um

Ingredientes:

Um entardecer de sexta-feira
Um ventinho frio
Uma rede na varanda
Um cobertor quentinho
Uma taça de vinho
Uma maça picadinha, salpicada de canela e azeite


Preparo:

Receba sua menina com um belo sorriso
Envolva-a com o cobertor e a coloque-a delicadamente na rede
Ofereça o vinho e dê-lhe pedaços de maça na boca
Intercalado com beijos e sorrisos

Rendimento:
Um delicado amor eterno.

domingo, 23 de julho de 2017

Cartas para o amor que vai chegar: Carta II


Querido Amor,

Não te vi sair hoje
Acordou tão cedo!
Fiquei encantada com a flor e o suco de abacaxi
que deixou de presente na mesinha de canto.
Você é sempre tão gentil e carinhoso comigo!
Obrigada por fazer meus dias melhores.

Não sei se sabe,
Meu primeiro pensamento do dia é dedicado a você.
Ainda com a visão turva e os sentidos adormecidos
busco seu corpo na cama.
Preciso ter certeza que você não é apenas um sonho.

Ao desejar-lhe bom dia,
não penso, não planejo,
falo apenas o que sinto
na intensidade em que esse lindo amor tem existido.

Queria que soubesse que estou muito feliz
e desejo que nosso amor seja sempre assim,
sem cobranças, com reciprocidade e respeito,
repleto de confiança.

Espero que não se canse das minhas demonstrações de afeto,
tenha paciência para ler todos os meus bilhetinhos e cartas
e que eles resultem num belo sorriso.

Olha amor,
percebi o quão sábia é a vida,
quando propõe-se a estabelecer vínculos.
Eu já havia deixado de acreditar no amor,
e, no momento em que mais precisei,
ela me trouxe uma bela surpresa: você

Tudo que busquei antes de ti foi em vão.
Agora, simplesmente, a felicidade surge
tem olhos que sabem rir,
cheiro de sol e ainda gosta
de beijar o lado de dentro do pulso,
para garantir-me que sempre voltará.

Nem em meus mais belos sonhos
Recebi um amor tão infinito.
Quantas vezes imaginei nosso futuro,
desejando que estivesse na varanda
a me esperar chegar do trabalho
com um beijo apaixonado
e uma taça de vinho branco gelado.
Nesse sonho você recitava poemas
Enquanto me olhava tomar banho.

O futuro chegou e sou quem te espera chegar,
com um chá de hortelã quentinho que você tanto gosta
(o que em nada interferiu em nossa felicidade).

Gosto de nossos jantares e noites românticas,
dos ataques de risos e lágrimas de emoção.
Ao seu lado, tudo é absolutamente perfeito!

Quero agradecer, também, sua amizade.
Saiba que a retribuo de corpo e alma!
Prometo ser a calmaria quando estiver em tempestade
e sua rede de proteção se estiver prestes a cair.

A vida é feita de escolhas e a minha é você.
Prometo fazer tudo (e mais um pouco) para que seja feliz.
Afinal, encontrar nossa alma gêmea é um presente divino!

Com amor,
A.

terça-feira, 18 de julho de 2017

Carta para (da) eternidade






Meu amado,


Tudo está tão iluminado agora! Estou admirando um amanhecer magnífico, repleto de silêncio e tranquilidade. Gostaria que estivesse aqui, para ver todo esse esplendor. Mas não é apenas o céu que se abre, a compreensão se forma dentro de mim.


Não se preocupe, está tudo bem. Tudo está perfeita e cruelmente bem. Agora eu entendo que as convenções são os limites entre ruído e som. São elas que nos impedem de ouvir claramente o coração. Fomos adestrados pela vida e pelas dores, a não escutar as melodias, apenas os ruídos. Ruídos em forma de medos, em forma de grilhões. Eles são tão estridentes que ferem os ouvidos, matam a percepção e, quando percebemos, a música fica fora de nosso alcance. 


Felizmente, amor, apesar de tanto sofrer, a vida não nos ensurdeceu e ainda há tempo pra nós, pois limites existem para serem transcendidos. Podemos vencer qualquer muralha, basta entender que se trata de mero desafio e ter força e paciência o suficiente para transpô-lo. No amor, meu querido, nada nunca é tarde demais, se compreendermos o motivo das coisas e aprendermos as lições ali contidas. 


Em momentos como este, posso sentir a batida do seu coração claramente, como sinto do meu. Forte, vigoroso, resiliente até. É o som do nosso amor que reverbera dentro de nossos peitos. Eu transcendi. Compreendi onde está o limite, fortaleci-me para vencê-lo e o ruído cessou. Sei o que preciso fazer e farei no tempo natural das coisas. E quando o momento chegar, será com enorme alegria que nos reencontraremos. 


A melodia de nossa canção nunca morrerá, não importa a distância, muito menos o tempo, pois sei que a separação é uma ilusão. Nossas vidas se estendem muito além dos limites de nossas pessoas. E não somos jovens demais para nunca termos nos encontrado em vidas passados, não é? Então, essa é minha clareza: o tempo não existe, ou melhor, todos os tempos coexistem numa vida imortal que se renova a cada encarnação. 


Um dia escrevi que já era amor antes de ser. Apesar de belo, é um pensamento equivocado. Antes e depois são conceitos irrelevantes, pois nossa ligação é atemporal. Então só existe o sempre.


Seguiremos aprendendo com nossos erros e acertos por todas as vidas, amparados por um amor que nada pode abalar, nem mesmo nós mesmos. Acredito profundamente que nosso vínculo é essencial, um fenômeno natural capaz de sobreviver a tudo, sobreviver a mortes. 


Moço, ser é ser percebido. Então conhecer a si mesmo só é possível através dos olhos do outro. A natureza de nossa vida imortal depende das consequências de nossas palavras e atos. Isso vai nos empurrando por toda a parte, o tempo todo. Obviamente não acertamos sempre, essa não é a missão dos humanos. Os desacertos tanto quanto os acertos, nos permitem aprender e aperfeiçoarmo-nos como indivíduos afins que somos. Então compreendo agora, de forma clara como a luz do sol, que passamos pelas dores e alegrias necessárias ao nosso crescimento espiritual e consigo me perdoar por toda dor que minha insensatez causou. 


O sol rompeu as nuvens e me inundou de luz. Isso me fez lembrar nossa última manhã juntos. Nada me parece mais perfeito que a luz da janela iluminando seu rosto adormecido, suave e descansado de toda aquela energia que você concentra em “fazer o que é certo”, em ater-se aos limites. Mas eu sei que você é mais forte que as convenções, que a música do amor mora em você, como mora em mim. Confio em sua capacidade de transcender. 


Te observei quieta o máximo que pude e não acredito que foi por acaso que acordei primeiro. Deus me presenteou com a chance de enxergar você sem limites e sei que minhas preces para que possamos viver juntos em paz serão atendidas um dia. (Um dia é uma pulga de esperança e pulgas não são fáceis de se livrar).


Posso certamente dizer que eu amo você e mesmo que um de nós estivesse morto, nada mudaria, eu te amaria. Sempre vou amar, você sabe. Nossas vidas não nos pertencem. Do útero ao túmulo estamos ligados um ao outro. Passado e presente são estradas onde cada crime e bondade nos permite recriar nosso futuro. Então façamos isso, caminhemos para forjar um futuro sólido e harmonioso, onde nós e nossos afetos estejamos protegidos e compromissos cumpridos. Nesse dia será de novo nosso tempo de poesia.


Não sei quando poderemos viver juntos ou se nessa vida teremos essa chance. Mas eu sigo acreditando nesse “um dia”. Não serei infeliz ou viverei de sonhos. Há um mundo inteiro esperando por nós, quando for o momento certo. Um mundo melhor. 


De qualquer forma, acredito que não ficaremos distantes por muito tempo. Até lá, encontre-me no meio das estrelas cósmicas, naquele céu majestoso sob o qual nos beijamos numa bela e inesquecível noite fria. 


Eternamente sua,
A




sexta-feira, 7 de julho de 2017

O Tempo das Coisas



Qual é o momento exato em que tudo muda?
Que decisão tomamos ou deixamos de tomar, faz a vida tomar um rumo absolutamente diferente?
Quando é que alguém ou algo te atinge a ponto de nada mais ser igual?
Quanto tempo precisa passar para nos darmos conta que a existência é um labirinto que não podemos controlar?

Somos seres iludidos. Meros animais que se acham capazes de dominar algo, orgulhosos de uma inteligência estúpida.

Tempo de reflexão e introspecção.
Ou não.

Provavelmente só estou escrevendo coisas aleatórias e sem sentido - o que também não faz a menor diferença.

Afinal, como diria Cícero:
"Mas quem se importa? É sexta feira, amor!"

terça-feira, 27 de junho de 2017

As Razões

Acredito que as razões somam-se lentamente, como um pequeno nó na garganta, que vai se avolumando, tornando-se mais que um enjoativo incômodo, até o ponto em que não se pode mais respirar sem sentir dor.

Talvez as razões sejam cortes minúsculos, que somados, formam feridas incuráveis. Pequenos desamores, descuidos ou crueldades mesmo, inflingidas com (in)consciente desejo de apagar aquele sorriso lindo, a esperança e a beleza do carinho. Uma espécie de sadismo, que também pode ser masoquismo - na medida em que arrancando os braços, evita-se abraços, ferindo os olhos, priva-se do amor que dali brota.

As razões formam-se lentamente, como uma chuva fina que não ensopa mas enregela a alma.
Nem sempre são treze, ou se estampam em pulsos cortados.
Muito mais cruel é morrer em vida.
E matar também.
A morte não é poesia.


domingo, 25 de junho de 2017

Confetes

Sabe aquelas mil pintinhas 
Que tenho espalhadas pela minha pele?
Pois é, 
Sonhei que arrancava uma por uma
As transformava em confete
E jogava pra cima sobre você.
Você sorria feliz,
Recolhia cada uma delas
E as guardava dentro do coração.

É um sonho bobo,
Repleto de toda a singeleza
De um sentimento chamado amor

sexta-feira, 9 de junho de 2017

A Vertiginosa Beleza de Um Amor Inesperado

Essa é uma época do ano delicada pra mim. As coisas costumam ficar confusas e prestes a desmoronar. Mas aí eu lembro de você e sua fome de vida, seu amor pela arte e pelos meus pés descalços misturados aos seus, nas noites frias. 

Tenho muita vontade de te explicar as coisas. Já tentei algumas vezes, mas você não tem olhos de ver e nunca, nunca consegue entender o que significa ter medo de ter medo. Não tenho mais essa pretensão faz tempo. Na verdade, isso não tem mais a menor importância. o que interessa é que não desisti de ti, de nós, de seu sorriso e de suas mãos a buscar tesouros escondidos atras da minha orelha esquerda.

Naquele inverno eu te queria tanto tanto e que me faltava o ar. Nesse quase inverno não é diferente. Aliás, é sim. É avassalador, mas sem o medo, apenas a docilidade de um amor tranquilo. Hoje eu posso ver as barreiras que venci e não tenho mais aflição por não enxergar o horizonte. Eu sei que ele está lá e que meu caminho é inexorável até ele, mas pode ser incrivelmente maravilhoso, se estiver comigo.

E você sabe exatamente como deixar tudo perfeito. Você e seu jeito único de ser, irresistivelmente encantador! Foi tudo que eu precisei para abrir-me para vida como flor. Agora é minha vez de te fazer florir, olhar de novo as cores e sorrir. Afinal, não há no mundo mais ninguém que consiga andar pela vida trajando uma larga calça xadrez, um chinelo velho e uma barba sexy, sem perceber a perturbação que causa tamanha beleza. E tenha certeza, quando seu sorriso nasce inteiro para mim, eu sinto que Deus é fodástico da porra! 

Naquele tempo, eu tava desacostumada com a leveza e mais ainda descrente na gentiliza humana. Por isso aquela madrugada foi tão perfeita. Você me fez flutuar quando me beijou pela primeira vez! Justo eu tão certa da solidez da muralha que cuidadosamente construí a meu redor! Bastou seus olhos nos meus e seus dedos entre meus cabelos para me ver rendida, embriagada por um amor infinito.

Agora eu não quero mais voltar para aquele mundo povoado por seres meticulosamente penteados e cheios de certezas. Um mundo onde não existe você. Então eu fecho os olhos e me transporto para uma casinha vulgar e cheia de risos, onde se vive livre de amarras e julgamentos. Amarras apenas as feitas com lenços de seda, nas noites mais intensas.

Um mundo onde ninguém se arrisca, onde é proibido colocar os pés no painel do carro ou abrir o portão de entrada vestindo (somente) uma gravata borboleta, não me cabe mais. Cresci tanto que não passo por aquelas portas, nem posso sentar-me nas cadeiras. Devo ter comido o bolinho de Alice e não pretendo achar o antídoto.

Vou ficar por aqui, nessa vida repleta da vertiginosa beleza de um amor inesperado.

Me dá sua mão? 
Meus dedos se sentem sozinhos quando não estão entrelaçados nos seus.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Solstício de Verão na Polônia




"Oi amor,
Tudo bem?
Sinto que não te escrevo há décadas.
Olha, andei no vale da amargura e  tenho medo de voltar pra lá.
Por mais de tudo dessa vida,
Certas coisas não posso dizer, nem se me perguntar.

Mas a vida também é muito curiosa.
Cada esquina nos traz um novo aprender


Em algumas ruas reencontramos uma paz,
Que parece uma velha amiga.
Ela não mora, nem faz estadia.
Passa a visitar ou cria-se no peito nosso
E como fonte do mundo, faz tudo brotar.
Brotar até as palavras,
Esse insumo da alma,
Buscando sementes
Que nem antes eram conhecidas por esta consciência.

As coisas são assim,
Se afastam
Se misturam
Num momento expulsam qualquer coisa
Noutro é enxurrada de emoção com ventos de candura.

Nesses momentos,
O peito é terno e a vontade é tranquilizar-te,
Dizer-te tudo aquilo que de mais lindo há
E fazer-te sentir amor e paz,

Se por algum minuto
Conseguir transferir-te essa paz,
Ganharei também em mim,
Esse nobre sentimento,
Pois com muita força e verdade
Eu te amo e respeito."

TH

terça-feira, 30 de maio de 2017

Carta para Ninguém


(ou para todos, você escolhe)



Essa carta é principalmente pra dizer obrigada.
Obrigada por adoçar meu espirito
A ponto dele ter coragem para ver o sol
Olhar estrelas, sorrir para a lua
Abrir meus olhos e meu coração
Para algo precioso: eu mesma

Sua amizade, ainda mais que seu amor
Permitiu que, mesmo timidamente, eu acreditasse de novo
Que podia, talvez, ser feliz
Que merecia, quem sabe, ser amada
Cuidada, carinhada, coberta de pequenos mimos
Aqueles que muita gente por aí esquece de enxergar
Porque sente de menos

Sabe,
Ser negligenciada e ferida
É uma coisa louca
Tão louca que a gente passa a achar natural
As pessoas se acostumam com o punho
Mais facilmente que com o afago
Ai, quando te olham nos olhos
Regam sua alma
Dá vontade de tanta coisa
Menos de acreditar

Essa carta é especialmente pra dizer obrigada
Obrigada por me ouvir com paciência
Por estar perto quando eu menos merecia
Por não largar minha mão

No momento que eu tive coragem de pular
Foi você quem me convenceu que valia a pena
Que eu conseguiria ser livre outra vez
Mesmo que nada disso soubesse
Mesmo que nada eu tenha falado
Dos grilhões que me prendiam
Das cicatrizes da minha alma
É que tem coisas que dão vergonha

Era tão belo poder ser uma moça inocente
Uma menina que não conhecia a dor
Muito menos o medo
Foi maravilhoso ser tão infinitamente amada

Por um átimo da eternidade eu conheci a plenitude
Fugaz, mas tão bela
É estonteante a felicidade
Tão, tão intensamente linda que precisa partir

Caprichosa como uma Deusa
A felicidade escolhe seus súditos
Aleatória e efemeramente
Esmaga, mas enaltece
O gosto que fica é de encantamento
Ainda que amargo

Essa carta é essencialmente pra dizer obrigada
Obrigada mesmo
Obrigada por, depois de me salvar
Fazer com que eu cometesse o maior erro da minha vida

Entenda, algumas habilidades são difíceis  de desenvolver
Ser amada é uma das mais árduas 
Parece uma pequena gazela
Aprendendo a se equilibrar sobre suas longas pernas
Desengonçada e adorável
Sem a menor noção de como seus gestos bruscos
São capazes de machucar
Mas ainda assim ela tenta
Tenta e cai
Cai e tenta
Até aprender a se por de pé

Foi esse erro que me trouxe de volta a lucidez
Que espantou o medo de mim
Algumas dores são mesmo tão agudas que param de doer
E um dia a gente deixa tudo isso esvair e renasce
E sabe, 
Quando você deixou de ser perfeito
Eu me vi livre enfim

Algumas pessoas ferem para evitar ferir demais
Negam amor por amar demais
E não é que isso é lindo?
Lindo e cruel

Essa carta é, enfim, não é só pra te dizer obrigada
Mas pra te contar
Que os grilhões sempre vencem no final
Só os tolos acham que o amor salva alguém
O que manda na vida é a força

Agradeço a Deus que seja um absoluto tolo

Fica em paz

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Versos Aleatórios, Rimas sem Propósito



"O dia trouxe a calmaria para um coração sofredor.
Diante do estúpido prelúdio do instante, disse-me alguém: não se adiante.
Sai dali transfigurado.
Pensando na vida, você ao meu lado.

Como pude ora pensar que qualquer quantia te faria afastar?
Idiota fui, viver o hoje porque o amanha sempre virá,
De tanto querer, amo-te, mesmo ao esperar.

As ondas já não violam as paredes do meu peito.
Ouço sons, se misturam e ainda assim parecem perfeito.
Vejo tempos em que te direi não, mas não se aflija.
Cada minuto será uma hora segurando tua mão.

Termino aqui esses versos, sem saber o que foi dito ou não.
Por via das duvidas, digo:
Te amo, com toda minha emoção."

TH

sábado, 13 de maio de 2017

Lembrar e Esquecer



Eu já tive medo de ter Alzheimer. Pensar que em algum momento eu poderia ficar refém da minha mente, perdida de minhas memórias, esquecida de meus afetos, me enchia de pânico!
Pior que isso era só a ideia de morrer e ser enterrada. Desde pequena eu tenho medo de ser enterrada. Sei lá, vai que eu não morri mesmo e acorde presa debaixo da terra. Deus me livre! Só de pensar já sinto falta de ar. Sou muito claustrofóbica, melhor não.
Já a ideia de ser cremada é bem interessante. Virar cinzas que serão soltas do topo de uma montanha bem alta e voar livre pelo mundo é uma imagem que me traz paz. Mas não é disso que eu quero falar.

Voltemos ao Alzheimer.

Sou um tipo meio intenso, daquele que coleciona momentos fantásticos. Na verdade, eles são até prosaicos, mas vividos com tamanha entrega, que sim, são extraordinários. Moram em mim todas as minhas dores e todos os meus amores. Todos! Todos. Todos os que (não) passaram por minha vida. Meu coração é um catálogo imenso de afetos e uma amostrinha mínima de desamores. Tenho dificuldade em deixar as pessoas irem de mim, é como se eu as tivesse abandonando. E quem ama não abandona. Nunca.

Não cultivo memórias ruins. Mas algumas são como ervas daninhas: terríveis a ponto de se recusem a me deixar, se agarrando ao meu cérebro com sofreguidão. Tem também as memórias perfeitas, que de tão lindas doem por serem agora apenas lembranças.

Eita pessoa complicada!
Seria tudo muito mais fácil pra você, mulher
Se aprendesse a ser menos!
Menos emotiva, menos intensa, menos boba, menos menos.
Menos.

Somos ensinados a perdoar, não cultivar a ira. Mas realmente um pouquinho de rancor não faz mal a ninguém. Quando temos um coração distraído é comum as mágoas que nos causam irem embora sem deixar vestígios. Isso nos deixa desprotegidos! A memória da dor deixa as pessoas medrosas. Aquela paradinha do gato escaldado.

Não sei ser medrosa, é uma habilidade que preciso aprender. Odiar também é algo que não domino, nem menos guardar uma raivasinha, uma mágoa bem dosada.

Nossa, isso soa bizarro!
Eu entenderei se nessa altura você tenha desistido de ler essa coisa ou me ache uma louca.
Enfim, normal.

Ahh é, o Alzheimer. Esqueci que eu queria falar dele.

Então.
Estava refletindo que talvez não seja uma má ideia esquecer de tudo e de todos.
Não sentir saudade, não sentir arrependimento, não sentir tristeza, não sentir amor.
Não sentir.
Ou sentir, mas não se lembrar.
Olhar tudo em volta com a curiosidade de um recém-nascido, uma página vazia a ser preenchida e não relida. A gente vem atulhando nosso HD mental com tantas lembranças, que um bug pode ser a chance de formatar e se sentir mais leve, ágil.

Não sei mais se gostaria de envelhecer com toda essa bagagem emocional.
Não sei também como me livrar dela, sem perder minha essência.
No fundo o que eu queria mesmo era nunca ter magoado quem amo, porque esses sim são os pesos emocionais que não posso esquecer. E isso é injusto, pois a contrapartida é desproporcional, na medida que perdoo e esqueço todo o mal que me fazem.

Um Alzheimer seletivo seria ideal.
Quem sabe assim eu aprenderia a lembrar (esquecer) apenas daquilo que me faz mais forte.

Ser intensa é exaustivo.
Ter boa (má) memória também.

domingo, 23 de abril de 2017

Poemas Antigos - Descompasso



Não odeio o amor
Somente seu jeito prudente de amar
Como quem precisa dosar carinho,
Economizar encanto.


Sou intensa demais,
Não tenho habilidade com conta gotas,
Muito menos sei ser pela metade.

Portanto, meu bem,
Se não posso devorar-te,
Abro mão de ti
Para não desistir do amar.

Vá em busca de alguém
Que se contente com porções homeopáticas
E me deixe aqui com minha inteireza!

Amar é para os fortes.

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Amor de Língua

(para meu moço, meu amor, meu)


Amo-te predicado meu
Mais que objeto
Menos que substantivo
Inteiramente sujeito

Amo-te por amar
Verbo que é
Carne que queima
Sossego de minh’alma

Amo-te sem regras
Apenas línguas nossas
Que se enroscam
e devoram

Amo-te com fervor
Necessidade além do amar
Transbordando horizontes invisíveis
Perpassada pela dor do intangível
Agulhas do tempo que não te vejo
Não te toco, cheiro, como, ouço...

Amo-te amor
Além do res do chão
Das incertezas, garrafas de vinho vazias
Bicicleta pendurada na garagem
Fotos inexistentes no mural
Livros solitários na estante

Amo-te
Nas nuvens do céu
Nas curvas das estradas
No vento de fim de tarde
Na calada da noite

Apenas amo-te, amor meu
Meu
Meu...

domingo, 16 de abril de 2017

Labirinto


Ah amor, espero por você desde sempre!
E nessa ânsia tresloucada
De procurar, achar e obter,
Perco-me por não compreender claramente
O que me falta de fato.

Sem saber quem tu és,
Busco por ti em muitos corpos,
Numa miríade de almas sedentas como eu,
Em turbilhões e vórtices de sentimentos.

Minha urgência em ter-te,
Impulsiona-me para paixões impossíveis,
Capazes apenas de me afastar ainda mais de ti.

Ah amor, onde estás?
Tudo costuma ir bem
Até perceber a inexistência
De um jeito encantador que sei ser só seu.
Tudo perde o brilho e meu ser anseia por seu olhar


Porque você, amor,
É meu
Antes mesmo de ser
E é só você que eu quero.

No fim, me compraz a dor de não encontrar-te,
numa espécie perversa de alívio misturada com esperança.

Ah amor!
Quando você chegar,
As loucuras, rebeldias e rixas perderão a graça!
Diante de ti, o sentido da minha arrogância,
Do orgulho de querer estar sempre certa
De não querer ceder,
Desaparecerá perante seu sorriso lindo.

Quero ser seu repouso e seu tormento!
Protegida e aquecida por tuas asas nos dias frios.
Entregue a ti durante a madrugada
Sedenta por seus beijos e faminta por sua pele
Será seu todo o carinho
Que jaz em mim há milênios.

É esse desejo que me move
E me mantem viva,
Nessa busca incessante por ti.
Porque você
É meu adorado!
Te amo mesmo sem saber.

sábado, 28 de janeiro de 2017

Diálogos Esquecidos III





















(AH & TH)

- Não me canso de perguntar: casa comigo? 
- Mil vezes, em todas as vidas.
- Apartamenta comigo? Trailer comigo? Rua comigo? Qualquer lugar comigo?
- Caso, apartamento, trailo, ruo, tudo com você. Mas e você: mora em mim?
- Eternamente, amor.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Diálogos Esquecidos II


(AH & TH)

- Bom dia, anjo meu. Durma tranquilo. Eu te amo.
- Bom dia meu anjo, durma tranquilo? Minha doidinha mais linda!
- Sim. É que eu queria que você acordasse e que dormisse também.
- Tu e tuas perfeitas antagonias!

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Diálogos Esquecidos

(AH& TH)


- Começou a chover.
- Que lindo! E como está a chuva?
- Fria, cinzenta e solitária.
- Olhe para o céu e me conte como vê a água descendo.
- Tá tudo branco.
- Então não tá solitária, está enfeitando nosso amor.
- Ela desce rápido e fina como agulhas.
- Não seriam pequenas crianças brincando de correr? Olhe de novo. É que elas são rápidas demais. Mas se ficar atento escutará os risinhos.
- São sujas.
- Sujas ou divertidas? Crianças adoram se enlamear.
- Talvez tristes.
- Talvez se entristeçam quanto tocam o chão. Não me interesso pelo chão hoje. Os adultos estão nele.
- Já que eu estou no chão e não voo, melhor ir...
- Claro que você voa! Acha que eu me apaixonaria por um simples ser andante? Você é meu anjo!
- É. Acho que sou. Pensando bem, acho que consigo escutar o som dos risos da chuva. Por um momento estive surdo e cego, amor. Obrigado por me acordar.