Essa é uma época do ano delicada pra mim. As coisas costumam ficar confusas e prestes a desmoronar. Mas aí eu lembro de você e sua fome de vida, seu amor pela arte e pelos meus pés descalços misturados aos seus, nas noites frias.
Tenho muita vontade de te explicar as coisas. Já tentei algumas vezes, mas você não tem olhos de ver e nunca, nunca consegue entender o que significa ter medo de ter medo. Não tenho mais essa pretensão faz tempo. Na verdade, isso não tem mais a menor importância. o que interessa é que não desisti de ti, de nós, de seu sorriso e de suas mãos a buscar tesouros escondidos atras da minha orelha esquerda.
Naquele inverno eu te queria tanto tanto e que me faltava o ar. Nesse quase inverno não é diferente. Aliás, é sim. É avassalador, mas sem o medo, apenas a docilidade de um amor tranquilo. Hoje eu posso ver as barreiras que venci e não tenho mais aflição por não enxergar o horizonte. Eu sei que ele está lá e que meu caminho é inexorável até ele, mas pode ser incrivelmente maravilhoso, se estiver comigo.
E você sabe exatamente como deixar tudo perfeito. Você e seu jeito único de ser, irresistivelmente encantador! Foi tudo que eu precisei para abrir-me para vida como flor. Agora é minha vez de te fazer florir, olhar de novo as cores e sorrir. Afinal, não há no mundo mais ninguém que consiga andar pela vida trajando uma larga calça xadrez, um chinelo velho e uma barba sexy, sem perceber a perturbação que causa tamanha beleza. E tenha certeza, quando seu sorriso nasce inteiro para mim, eu sinto que Deus é fodástico da porra!
Naquele tempo, eu tava desacostumada com a leveza e mais ainda descrente na gentiliza humana. Por isso aquela madrugada foi tão perfeita. Você me fez flutuar quando me beijou pela primeira vez! Justo eu tão certa da solidez da muralha que cuidadosamente construí a meu redor! Bastou seus olhos nos meus e seus dedos entre meus cabelos para me ver rendida, embriagada por um amor infinito.
Agora eu não quero mais voltar para aquele mundo povoado por seres meticulosamente penteados e cheios de certezas. Um mundo onde não existe você. Então eu fecho os olhos e me transporto para uma casinha vulgar e cheia de risos, onde se vive livre de amarras e julgamentos. Amarras apenas as feitas com lenços de seda, nas noites mais intensas.
Um mundo onde ninguém se arrisca, onde é proibido colocar os pés no painel do carro ou abrir o portão de entrada vestindo (somente) uma gravata borboleta, não me cabe mais. Cresci tanto que não passo por aquelas portas, nem posso sentar-me nas cadeiras. Devo ter comido o bolinho de Alice e não pretendo achar o antídoto.
Vou ficar por aqui, nessa vida repleta da vertiginosa beleza de um amor inesperado.
Me dá sua mão?
Meus dedos se sentem sozinhos quando não estão entrelaçados nos seus.
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