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terça-feira, 18 de julho de 2017

Carta para (da) eternidade






Meu amado,


Tudo está tão iluminado agora! Estou admirando um amanhecer magnífico, repleto de silêncio e tranquilidade. Gostaria que estivesse aqui, para ver todo esse esplendor. Mas não é apenas o céu que se abre, a compreensão se forma dentro de mim.


Não se preocupe, está tudo bem. Tudo está perfeita e cruelmente bem. Agora eu entendo que as convenções são os limites entre ruído e som. São elas que nos impedem de ouvir claramente o coração. Fomos adestrados pela vida e pelas dores, a não escutar as melodias, apenas os ruídos. Ruídos em forma de medos, em forma de grilhões. Eles são tão estridentes que ferem os ouvidos, matam a percepção e, quando percebemos, a música fica fora de nosso alcance. 


Felizmente, amor, apesar de tanto sofrer, a vida não nos ensurdeceu e ainda há tempo pra nós, pois limites existem para serem transcendidos. Podemos vencer qualquer muralha, basta entender que se trata de mero desafio e ter força e paciência o suficiente para transpô-lo. No amor, meu querido, nada nunca é tarde demais, se compreendermos o motivo das coisas e aprendermos as lições ali contidas. 


Em momentos como este, posso sentir a batida do seu coração claramente, como sinto do meu. Forte, vigoroso, resiliente até. É o som do nosso amor que reverbera dentro de nossos peitos. Eu transcendi. Compreendi onde está o limite, fortaleci-me para vencê-lo e o ruído cessou. Sei o que preciso fazer e farei no tempo natural das coisas. E quando o momento chegar, será com enorme alegria que nos reencontraremos. 


A melodia de nossa canção nunca morrerá, não importa a distância, muito menos o tempo, pois sei que a separação é uma ilusão. Nossas vidas se estendem muito além dos limites de nossas pessoas. E não somos jovens demais para nunca termos nos encontrado em vidas passados, não é? Então, essa é minha clareza: o tempo não existe, ou melhor, todos os tempos coexistem numa vida imortal que se renova a cada encarnação. 


Um dia escrevi que já era amor antes de ser. Apesar de belo, é um pensamento equivocado. Antes e depois são conceitos irrelevantes, pois nossa ligação é atemporal. Então só existe o sempre.


Seguiremos aprendendo com nossos erros e acertos por todas as vidas, amparados por um amor que nada pode abalar, nem mesmo nós mesmos. Acredito profundamente que nosso vínculo é essencial, um fenômeno natural capaz de sobreviver a tudo, sobreviver a mortes. 


Moço, ser é ser percebido. Então conhecer a si mesmo só é possível através dos olhos do outro. A natureza de nossa vida imortal depende das consequências de nossas palavras e atos. Isso vai nos empurrando por toda a parte, o tempo todo. Obviamente não acertamos sempre, essa não é a missão dos humanos. Os desacertos tanto quanto os acertos, nos permitem aprender e aperfeiçoarmo-nos como indivíduos afins que somos. Então compreendo agora, de forma clara como a luz do sol, que passamos pelas dores e alegrias necessárias ao nosso crescimento espiritual e consigo me perdoar por toda dor que minha insensatez causou. 


O sol rompeu as nuvens e me inundou de luz. Isso me fez lembrar nossa última manhã juntos. Nada me parece mais perfeito que a luz da janela iluminando seu rosto adormecido, suave e descansado de toda aquela energia que você concentra em “fazer o que é certo”, em ater-se aos limites. Mas eu sei que você é mais forte que as convenções, que a música do amor mora em você, como mora em mim. Confio em sua capacidade de transcender. 


Te observei quieta o máximo que pude e não acredito que foi por acaso que acordei primeiro. Deus me presenteou com a chance de enxergar você sem limites e sei que minhas preces para que possamos viver juntos em paz serão atendidas um dia. (Um dia é uma pulga de esperança e pulgas não são fáceis de se livrar).


Posso certamente dizer que eu amo você e mesmo que um de nós estivesse morto, nada mudaria, eu te amaria. Sempre vou amar, você sabe. Nossas vidas não nos pertencem. Do útero ao túmulo estamos ligados um ao outro. Passado e presente são estradas onde cada crime e bondade nos permite recriar nosso futuro. Então façamos isso, caminhemos para forjar um futuro sólido e harmonioso, onde nós e nossos afetos estejamos protegidos e compromissos cumpridos. Nesse dia será de novo nosso tempo de poesia.


Não sei quando poderemos viver juntos ou se nessa vida teremos essa chance. Mas eu sigo acreditando nesse “um dia”. Não serei infeliz ou viverei de sonhos. Há um mundo inteiro esperando por nós, quando for o momento certo. Um mundo melhor. 


De qualquer forma, acredito que não ficaremos distantes por muito tempo. Até lá, encontre-me no meio das estrelas cósmicas, naquele céu majestoso sob o qual nos beijamos numa bela e inesquecível noite fria. 


Eternamente sua,
A




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