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domingo, 31 de dezembro de 2017

Entre o Outono e o Caos




"Vem e traz essa calcinha branca."
"Moço, ela é listrada! hahaha"
E eu fui

Fui
Na pressa, esqueci a calcinha
Mas lembrei do chocolate belga
E dos bulbos de tulipa vermelha e amarela
Pra você plantar e não me esquecer
Quando o sonho acabar

Fui
Só fui, sem pensar um minuto sequer
Essa intensidade e impulsividade louca
Típica de nosso amor único
Coração descompassado, unhas roídas até sangrar





O celular piava loucamente
Gritando sua pressa zangada por minha chegada
O portão já esperava destrancado
Claro que tropecei na escada escura e soltei aquele "merda" estridente
Que te faz gargalhar do meu jeito estabanado ser
É muita perna pra uma moça só
Difícil administrar, você sabe

Ouvir sua risada no escuro
Fez meu acelerado coração
Dar mortais carpados de emoção
E lá estava você
A mesma voz serena e toque macio
Um revival in black do nosso primeiro abraço

A casa era exatamente como me lembrava
O sofá grande abaixo da janela
O pequeno perto da porta onde eu adormecia
Ouvindo a Vó contar historias de quando você era pititico

E o vento
Ahh o vento...
Uivante, assustador e delicioso
Trazendo de longe o cheiro de maresia

A casa era a mesma
Mas a emoção de ter seus olhos escuros invadindo o amarelado dos meus
Cresceu proporcionalmente ao tempo que estivemos tão distantes
O seu cheiro é ainda mais inebriante que minha memória pode guardar
Você sabe que seu cheiro é o que destrói meu cais, como diz a Ana Muller

E você percorreu cada traço do meu rosto e corpo com as pontas dos dedos
Lendo meu amor em braile
Olhos fechados e coração na boca

"É estranho ter você aqui de novo"
Uma estranheza apagada pelo primeiro beijo
Aquela embriaguez profunda
Como cair vertiginosamente em um abismo

Beijos e abraços feitos para conferir
Se cada pequena curva e reentrância
Vibra e retesa
Reverberando mais ou menos que antes

Mais
Definitivamente muito mais
A noite derreteu em nosso suor
E cantou nossos sussurros e gritos

Acordei em seus braços
Naquela cama estreitinha
Que nos obriga a dormir grudados (como se precisasse)
Só que dessa vez duas bolinhas de pelo
Uma branca e uma preta
Se aninhavam entre nossas pernas

Gatos
Iogurte de limão e coca zero na geladeira
Louça pra lavar
Lista de coisinhas pra comprar no mercado do fim da ladeira
É
Eu estava em casa de novo

Casa
Porque moro no seu abraço
E no seu olhar risonho
Me olhando dormir de boca entreaberta

Será que a vida inteira acordarei sobressaltada com seus olhos pousados em mim?
Enfim percebeu que o que falta em você sou eu?
A gente sempre pensa que tem o leme da vida.
E ela zomba de nossa ingenuidade.

Sigamos entre o outono e o caos

De preferência com um pratinho de maça geladinha picada 
Com azeite e canela no café da manha
E "Casa" tocada no violão só pra mim antes de dormir
Não esquece

sábado, 2 de dezembro de 2017

A Incrível História de um Amor Torto e Teimoso: o medo lutando contra a saudade


Estava tudo tão vazio aqui
Silêncio ensurdecedor
Lagrimas secas
Olhos cegos
Uma ausência sem fim

Promessa cumprida
Sob um esforço furioso
Tanta dor represada
Para (tentar) deixar voar

Depois de tamanha escuridão
De um inverno profundo na alma
Numa tardinha de primavera
Um tilintar quase imperceptível
Como um sopro ao ouvido
E você estava lá
Zombando das minhas (pseudo) certezas

No início meio apagado
Só um vislumbre daquela lembrança quase perdida
Empurrada para o mais fundo da mente
Amordaçada para disciplinar
Para impedir de o acaso trair

Mas você sabe como são essas coisas
Por mais que a gente enclausure
O sol entra pelas frestas
E a vida acha seu caminho
Você sabe
Eu sei que você sabe

E seu sorriso de olhos
Suave como a brisa
Belo como o mar
Me inundou como uma maré alta
Numa noite de lua cheia

E as cores desbotadas do outono
Florescem timidamente em mim
Como um sentimento confesso de olhos fechados
Arrancado do fundo da alma

Não levante de novo as armas
A vida anda ansiosa pra morar de novo em ti
E em mim também